Nascido no Amazonas, em uma família formada por índios e caboclos, o Pastor Caio Fábio ficou conhecido por sua irreverência e por uma sinceridade lúcida.

“Quando você é pastor, você é pastor. Não é uma função, tem a ver com o modo de ser, de tratar a vida, de tratar o próximo”, contou em entrevista ao Pânico nesta quarta-feira (01).

Questionado sobre a exploração do dízimo que acontece em tantas igrejas evangélicas, sem papas na língua, ele brinca que uma espécie de ‘CPI’ seria essencial para investigar tais atos.

“Acho que tinha que botar a ‘Lavajato’ em cima desse pessoal todo, porque é mais do que absurdo, é patético, sobretudo porque isso é feito em nome de Deus, em nome de Jesus. Deus não está de olho no carro de ninguém, não precisa do dinheiro de ninguém. Deus vai bem, obrigado. Sou contra qualquer forma de participação não voluntária. Acho que tem que ser em espírito e vontade, para ter contato com Deus, você tem que chegar nu e não pode propor barganhas”.

Diferente de outras entidades, o Pastor também comenta sobre outras religiões, mas livre de qualquer posicionamento preconceituoso e tem garante ter afeição pela figura do Papa Francisco.

“Ele é ótimo, um cara muito bom, um ser humano legal. E eu acho que a Igreja católica não precisa de ninguém que seja melhor, superior, a um ser humano. Que não é irreal, inviável, porque a maioria deles sempre foi de figuras de atitudes, no mínimo, não confiáveis, quando não eram perversos”.

Quanto à resistência que ele tem sofrido dentro da própria Igreja Católica, o Pastor parece se reconhecer no mesmo papel e comenta: “Eles não aceitam rasgos simples da figura do Francisco, tudo vai ficando muito mais político do que eu acho que ele realmente queria. Mas de duas semanas para cá, ele já começou a soltar as estribeiras e eu espero que ele tenha peito para bancar tudo. Ele vai conseguir transformar as coisas? Não, mas vai dar um alento para muitas pessoas. Foi um sopro de alento para a humanidade. Ele não é um individuo arrebatador, mas a gente está precisando de gente prudente, ponderada, que faça essas intervenções suaves e diplomáticas”, ressaltou.

Espetacularização

Sobre o seu desligamento das funções do grupo que ajudou a fundar, a Associação Evangélica Brasileira (AEVB), ele é categórico:

“Eu me desliguei porque cheguei à conclusão de que aquilo era irreversível, porque vi que aquilo tinha se tornado de uma natureza absurda. E nenhum deles me enfrenta por quê? Porque não aguentam me olhar no olho, porque temem o atropelo da verdade”.

O escritor critica ainda a espetacularização dos problemas mentais, feitos por muitas igrejas e, por vezes, em programas televisionados.

“99% desses ‘endemoniados’ que vocês veem na TV são só os condicionados e tem uma quantidade de contratos, porque eu já vi. Não tem nada a ver com diabo ou coisa alguma, tem a ver com a cultura afro de incorporação que o Macedo explorou e usa como catarse, de exorcismo. Quanto menos as pessoas são tratadas, mais público eles têm, ao invés de tratar o problema psicológico, isso é apelidado de demônio e servem como entes crônicos que voltam num ciclo de dois em dois meses para ter um surto daquele, se livrar e ficar devendo tal benção. É questão de saúde mental saber disso”, completa.